A minha mãe é que me apresentou à biblioteca, embora não me recorde dos detalhes. Julgo que também ela tinha sido sua leitora na juventude.
Uma quarta-feira por mês lá estacionava ela na Praça da República da vila onde morava, cerca das 6 ou 7 horas da tarde. A carrinha era servida por duas pessoas: talvez um bibliotecário e um motorista.
E lá nos dirigíamos nós, com os três livros (às vezes lá conseguia trazer quarto) em geral lidos e o cartãozinho metido na capa de plástico. Julgo que era no cartão que estavam inscritos os dias da visita da carrinha.
Nessa altura (e muito tempo depois) lia muitíssimo mais que agora. Nessa altura e até há poucos anos, não havia biblioteca na vila.
Para a minha idade eram os livros com bolinha verde. Da prateleira fundeira. Mas o bibliotecário já me deixava levar os de bola laranja, da segunda prateleira. Depois de escolhidos, preenchia no fundo da carrinha o papelinho com as cotas respectivas e entregava, já na frente, ao bibliotecário, antes de sair.
Eram livros de capas duras e austeras, encadernados para durar. Mas que não me assustavam.
Lá li o Júlio Verne, a Agatha Christie, os clássicos gregos adaptados para miúdos, o Alves Redol, o Charles Dickens, o John Steinbeck, o "Coca-Cola Killer", a ficção científica, talvez alguns russos e dúzias de outros de que não me lembro mas que estão devidamente incorporados.
O que eu e o país devemos à Gulbenkian!
Já tive ocasião de lhes agradecer este fantástico serviço por email, embora tenha ficado sem resposta.
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MAI2019:
Entretanto a vila equipou-se h+a vários anos com uma bela biblioteca (na qual parte do fundo pertencia às bibliotecas Gulbenkian).
Recentemente tive a grata notícia de que, 30 anos depois, a vila presta agora às suas aldeiras o mesmo serviço que a Gulbenkian prestava à minha e tantas outras localidades pelo país: instituiu uma biblioteca itinerante no sec XXI.
O que eu gostei de saber isto.
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