sexta-feira, 31 de julho de 2015
Problemas de Marca
No Decatlhon algumas bicicletas chamaram-me a atenção pelo design, pelo bom aspeto. Algumas delas eram bicicletas de gama alta, com preços na ordem dos 500, 600€.
Como faço com frequência, fui ver a origem e alguns dos modelos são fabricados em Portugal.
Porém, não conheço grandes marcas portuguesas. Se quero comprar uma bicicleta razoável, penso em marcas estrangeiras, ou nas marcas das grandes lojas. Mesmo as pequenas lojas de bicicletas têm o mesmo tipo de oferta.
A única marca portuguesa que me vem à ideia é a Orbita. Olhando para o catálogo, as bicicletas não enchem o olho com aquelas que estão no Decatlhon. Mesmo que a qualidade seja igual ou superior.
Acontece que uma boa parte das bicicletas vendidas na Europa é feita em fábricas portuguesas, como relata a notícia abaixo.
Trata-se do problema do costume: por vezes até conseguimos fazer bem, mas o design, inovação, marketing, distribuição, e portanto grande (a maior?) parte do valor, fica nas mãos de outros (veja-se a Apple: fabrica na China, mas claramente grande parte dos 700€ de um iPhone são para a Apple).
Reconheço que se trata da parte mais difícil, mas é pena que não consigamos agarrar também essas vertentes da cadeia de valor.
"As empresas em território nacional estão a produzir mais bicicletas do que nunca. Este ano o setor espera produzir quase dois milhões de unidades, o que representa um recorde. O presidente da Associação Nacional da Indústria de Duas Rodas, Paulo Rodrigues, afirma que esta é uma tendência também impulsionada pelo facto de mais portugueses andarem de bicicleta. - See more at: http://www.rtp.pt/noticias/economia/portugal-e-o-terceiro-exportador-europeu-de-bicicletas_a848358#sthash.0xuE6tlw.dpuf"
quinta-feira, 9 de julho de 2015
sexta-feira, 3 de julho de 2015
Urbanismo
Qual terá sido a razão para colocar aqui este verdadeiro xilofone matraqueante?
Já teriam em mente retirar daqui o trânsito?
quarta-feira, 1 de julho de 2015
O que podemos aprender com os belgas de Gent
Caraterização da cidade
Gent é a maior cidade da zona flamenga da Bélgica, com cerca de 250.000 habitantes. É uma cidade universitária com cerca de 32.000 estudantes e muita actividade económica (https://en.wikipedia.org/wiki/Ghent).
A cidade é servida por duas estações de comboio centrais e dispõe de eléctricos e autocarros como meios de transporte.
Gent está totalmente preparada para a deslocação em bicicleta e este meio de transporte é massivamente utilizado.
O centro histórico da cidade é muito habitado, tem uma grande concentração de comércio (incluindo grandes lojas como a FNAC ou a Media Markt) e apesar disso é muito silenciosa e calma, em larga medida pela reduzidíssima presença de automóveis.
A reduzida quantidade de automóveis, a habitação no centro da cidade, as deslocações em bicicleta dão à cidade e aos seus habitantes uma aparência de calma e qualidade de vida.
Mobilidade
A chuva, o frio e até granizo, e uma boa parte dos pavimentos em calçada não servem de desculpa para os belgas de Gent não se deslocarem de bicicleta.
Sim, é a cidade é plana. Mas não, o clima ajuda muito pouco. Eles evitam as desculpas, vêem as vantagens de preterir o carro.
Uma fotografia paradigmática: uma zona 30, sem via ciclável e onde é dada prioridade aos ciclista por via destas caixas antes dos semáforos. Os belgas não acham que os ciclistas atrapalham o trânsito.
Não é obrigatório existirem pistas dedicadas às bicicletas. Na cidade de Gent, que quer dar prioridade à bicicleta e às pessoas, os automobilistas são sim obrigados a criar condições para que os ciclistas e os peões circulem em coexistência e com segurança.
De manhã há uma verdadeira hora de ponta para levar as crianças à escola e obviamente para ir trabalhar. Ao contrário de cá, porém, é em grande medida uma hora de ponta ciclista:
Os belgas de Gent acham que têm vantagem em partilhar o passeio com pistas cicláveis, quando não há mais nenhum espaço para colocar esta última.
Mesmo assim, mantêm um passeio aceitável e não vi nenhum conflito por essa razão.
Esta foi a via “mais rápida” que vi na cidade. Um “ring”, uma circular. Ainda assim
- É uma zona habitável e habitada
- Continua a ter passadeiras
- Tem apenas 2 faixas de cada lado
- Tem pista ciclável e passeios dignos desse nome
Esta é a partilha do espaço público que os belgas de Gent consideram justa e funcional: 2 passeios, 2 pistas cicláveis, 2 faixas bus (eléctrico + autocarro) e 2 faixas para automóveis.
Trata-se de uma avenida que é uma via principal.
2 faixas para automóveis. Mas em vez de estacionamento, há uma pista ciclável e 2 passeios dignos desse nome. Reflexo das prioridades da cidade.
Alguém a transportar os filhos desta maneira em Gent não é visto como estando a pôr os filhos em grave risco.
Este é o parque de estacionamento em frente de uma das estações. As pessoas, em especial os muitos estudantes de Gent, deixam a bicicleta nestes parques e apanham o comboio para ir dormir a casa. Em vez de um automóvel, os belgas de Gent optam por criar espaço para 6 ou 7 bicicletas parqueadas.
É preciso tomar opções. Ou se permite estacionar um carro, ou 6 bicicletas. Os belgas de Gent vêem mais vantagens na segunda.
E também consideram um bom investimento construir parques cobertos e vigiados (além de gratuitos) para bicicletas
À porta de universidade esta é a ocupação do espaço. Em vez de 20 automóveis, centenas de bicicletas.
Praticamente todas as ruas de sentido único são de dois sentidos para os ciclistas. Os belgas não vêem nisso nenhum perigo, antes vêem um facilitador da mobilidade na cidade.
Aliás, nas fotografias seguintes vêem-se evidências disto: facilitar ao máximo a circulação em bicicleta, e reduzir o impacto do automóvel, seja pela usurpação das ruas pelo estacionamento, seja pela redução da velocidade de circulação.
Por vezes há vias com partilha entre peões e ciclistas. Também não presenciei nenhum conflito.
Aliás o único impropério que vi foi de um ciclista a um peão, criança, que saltou inadvertidamente para a estrada.
Nesta rua é proibido estacionar. Como estaria ela em Cascais ou em Lisboa?
Em vários dias, este foi o único carro em cima do passeio. Teve direito a fotografia.
Esta praça, central, possui um parque subterrâneo. Apesar disso, o trânsito é muitíssimo reduzido e a zona extremamente calma.
Espaço urbano
Trânsito automóvel
O centro tem pouco trânsito. Nalgumas zonas é mesmo residual, apesar de não parecer proibido. Possivelmente porque é difícil estacionar (não há carros em cima dos passeios) e porque muitas pessoas utilizam a bicicleta. Daí resulta um espaço calmo, com pouco ruído, em especial à noite, onde no entanto há sempre muitas pessoas e circulam muitas bicicletas.
Também é servido por várias linhas de eléctricos, naturalmente também silenciosos e sem fumo.
Apesar de se deslocarem maioritariamente em transportes públicos, bicicletas e a pé, não me pareceu que por essa razão fossem menos produtivos, demorassem muito tempo a fazer as suas deslocações ou tivessem má qualidade de vida. Antes pelo contrário.
Motocicletas
Em Gent as motocicletas (cilindrada inferior a 50cc?) podem utilizar as ciclovias. É algo que me parece estranho, porque a velocidade, o poder de arranque e a massa de uma motocicleta não são comparáveis às de uma bicicleta, e portanto a coexistência entre ambas nas ciclovias parece-me pouco natural. Mas é assim em Gent.
Desníveis
Os belgas de Gent não cederam ao lobby da pedra de calçada. Em vez disso, aliaram-se ao lobby do cimento.
Por isso, têm passeios lisos, desníveis suaves, sem degraus nem lombas e covas a cada passo. Como tal, é possível percorrer quilómetros (literalmente) a pé, arrastando um mala com rodas, ou empurrando um bebé ou cadeira de rodas sem grande esforço. Não é preciso a cada passo um esforço para subir ou descer um degrau.
Por isso, têm passeios lisos, desníveis suaves, sem degraus nem lombas e covas a cada passo. Como tal, é possível percorrer quilómetros (literalmente) a pé, arrastando um mala com rodas, ou empurrando um bebé ou cadeira de rodas sem grande esforço. Não é preciso a cada passo um esforço para subir ou descer um degrau.
Em muitas ruas, inclusive, a transição entre passeio e estrada não existe. Há poucos locais co pilaretes. Mas nem por isso os passeios estão pejados de automóveis.
E não, não há um polícia em cada esquina. Talvez os polícias atuem sempre que vêm um carro em cima do passeio. Deste modo, todos sabem que não vale a pena.
Os belgas de Gent não avisam os pais para retirarem as crianças das ruas, para deixarem os automobilistas circular à vontade. Em vez disso, alertam os automobilistas de que o espaço urbano é de todos e, que sendo os que mais riscos apresentam, devem ter mais cuidados que os restantes utilizados da rua
Comércio
Na zona mais central da cidade há imensas lojas. Trata-se de um verdadeiro centro comercial a céu aberto, apesar do clima. Há lojas como a FNAC e a MediaMarkt na zona histórica.
E estas lojas praticam horários de comércio tradicional, não estão abertas até à noite. Ao domingo, nada está aberto.
É verdade que nos dá muito jeito os horários cá praticados. Mas julgo que não será por as lojas belgas praticarem aqueles horários que as compras ficam por fazer. E deste modo as pessoas, todas, empregados e clientes, têm vidas mais calmas.
A rua da fotografia abaixo, por exemplo, é fortemente comercial, com lojas de características luxuosas. Nem por isso a rua precisa de ter estacionamento para que as lojas sobrevivam.
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