Desde que me conheço, e já lá vão mais de 30 anos, que ouço dizer mal da função pública.
Em devido tempo, lamento, também eu me juntei ao coro. Gente que se atropela e pouco trabalha; promoção pela antiguidade, nenhuma importância ao mérito; nenhuma responsabilização; mau atendimento, prioridade às conversas pessoais e à má-língua, mesmo à frente do "utente"; várias pessoas por detrás do balcão, com ar de tédio, mas uma fila de utentes à frente das poucas que estão a atender; horários de trabalho e de atendimento curtos; garantia de emprego qualquer que seja o desempenho, quantas vezes pouco menos que miserável; mal-dizer constante do patrão-Estado.
Concerteza que há excepções; ainda recentemente tive oportunidade de experimentar uma e também de a referir ao serviço em causa. Mas a regra...
Claro que está não é a altura ideal para reduzir emprego, seja pelo despedimento de funcionários, seja por aumento do tempo de trabalho. Mas se não agora, quando?
Como portugueses que somos, sabemos que se não for na urgência, as coisas realmente importantes (e difíceis, claro está), nunca se fazem. Portanto, infelizmente a oportunidade é agora.
Acho muito bem que se coloquem todos a trabalhar 8h. Há muitos anos que verifico que a desculpa universal para tudo é a falta de tempo, seja no privado, seja no público, seja em casa, seja na vida profissional. Toda a gente anda atarefadíssima, sem tempo. Mesmo quando a primeira coisa que se faz ao chegar ao trabalho é gastar 1/2 a tomar o pequeno almoço que devia ser tomado em casa.
Assim, o problema da falta de tempo para trabalhar com mais qualidade, para estar mais tempo a atender público, para não deixar acumular processos, fica um pouco menos grave. E claro, reduz um pouco a indignação do privado, que em geral trabalha para cima de 8 horas, paga o funcionalismo, é mal servido e vê o público a trabalhar menos horas.
Se eu gostava que trabalhássemos todos 7 horas em vez de aumentar o público para 8 horas? Ah pois claro que gostava. E apoio. Acho é que isso não se coaduna com a nossa pretensão de mais carros por família, mais férias por ano, mais televisões em casa, mais, mais. Enfim, mais consumo.
E quanto aos despedimentos?
Não comento a forma, por não a conhecer bem. E também concordo que o momento não é bom.
Mas seríamos nós capazes de assumir o compromisso de manter agora os empregos e despedir daqui a 2, 3 anos, como deve de facto acontecer?
Claro que não seríamos capazes disso, assim que a corda se alargar um pouco, lá voltamos todos a gastar quanto temos e não temos, a focar-nos no fim de semana prolongado e a esquecer as medidas estruturais.
Só conseguimos funcionar assim, infelizmente.