segunda-feira, 7 de abril de 2025

PMUS de Lisboa - Plano de Mobilidade Urbana Sustentável - contributo

 ABRIL 2025


A quantidade de tráfego automóvel individual, no qual recentemente é preciso incluir a avassaladora utilização de TVDEs, é grotesca em Lisboa (já nem falo dos ridículos tuk tuk) e tem-se agravado, com fortíssimo impacto na qualidade de vida das pessoas que aqui vivem ou trabalham.

A qualidade do ar é horrível, o ar é tóxico; o ruído lembra o de uma zona industrial; o risco rodoviário é enorme, condicionando a liberdade de circulação a pé ou de bicicleta, e em especial afectando a vida das crianças; os autocarros arrastam-se no meio dos carros engarrafados, com velocidade comercial a decrescer e vias BUS que são removidas, em vez do seu número aumentar; o espaço público é medíocre, totalmente dominado por automóveis em movimento, e legal e ilegalmente estacionados - mesmo as zonas recentemente reabilitadas e votadas ao peão são paulatinamente invadidas novamente pelos carros, à medida que os pilaretes desaparecem (Ribeira das Naus, Cais da Marinha, Campo das Cebolas, …). A cidade é atravessada por absurdas vias rápidas em locais com habitação, serviços, turismo ou comércio, como Forças Armadas/Estados Unidos, Índia, Campo Grande, República, Brasília, etc, etc, onde pessoas são frequentemente atropeladas em passadeiras.


Acabei de passar uma semana numa cidade belga e o contraste não pode ser mais gritante: Lisboa está num estado lastimável, e piora, afogada em carros, ruído e poluição. 


Porém o que mais se vêem são medidas que incentivam o uso do carro: milhares e milhares de novos lugares de estacionamento públicos e em edifícios de habitação e escritórios; fala-se agora em mais 6 vias para automóveis entrarem na cidade (!!) vindas da margem sul, como se a cidade não estivesse já atulhada de carros; alarga-se a via rápida da Caparica.

Ao contrário, os projetos de transporte público arrastam-se interminavelmente, de anúncio em anúncio em época eleitoral:  LIOS (voltou o anúncio, agora com novo nome), linha de Cascais ligada à Cintura, barcos que nunca mais prestam serviço fiável, Fertagus cada vez pior - e ainda se ouvem inacreditáveis opiniões de afastar a linha de Cascais do centro da cidade, em exacto contraciclo com o que se vê nas cidades evoluídas da Europa que aproximam o transporte pesado do centro! Nos últimos anos a rede ciclável estagnou, ocupando-se a câmara em estender a rede Gira para locais sem infraestrutura e entretendo-se em auditorias para que pareça que algo acontece.


Em face deste panorama negro, a minha contribuição para um plano de mobilidade que humanize a cidade é por isso óbvia:


  • É preciso reduzir drasticamente a quantidade de carros a circular na cidade, sejam eles a motor térmico, sejam elétricos

  • Para isso, não bastam intenções eternamente anunciadas: ao mesmo tempo que se vão melhorando as condições para não usar o carro, são absolutamente necessárias medidas restritivas sobre o automóvel: zonas de emissões reduzidas, zonas sem carros, redução do estacionamento disponível e seu encarecimento, redução das vias de entrada na cidade, em vez de aumento, por exemplo convertendo vias normais em vias em BUS (exemplo da A5, que de 5 em 5 anos volta a cima da mesa), portagens

  • Aumentar a quantidade de vias BUS dentro e no acesso à cidade, fiscalizando os abusos

  • Garantir em todo o lado percursos pedonais confortáveis, seguros, lisos, sem calçada, sem desníveis, contínuos, coerentes - basta ver e copiar o que se faz noutras cidades da Europa

  • Garantir uma rede ciclável abrangente, segura, coerente; fazer utilização de contra-fluxos, comuns nas cidades evoluídas

  • Reduzir a velocidade em todas as vias, incluindo as verdadeiras vias rápidas absurdas que existem dentro da cidade. Nas vias de bairro, impor redução de velocidade por desenho: tipo de piso, sobre-elevação de cruzamentos, obstáculos propositados

  • Não aumentar as vias de acesso à cidade! Não é isto óbvio? Ao mesmo tempo que os autarcas falam de descarbonização, sustentabilidade e a cidade é uma catástrofe em termos de trânsito automóvel, facilitar ainda mais a entrada de automóveis?

  • A falácia de que os transportes públicos são todos péssimos, que todas as zonas são igualmente mal servidas e que é preciso esperar que sejam perfeitos para se tomarem medidas restritivas ao automóvel, só serve aqueles que querem que tudo fique na mesma, e assim tem acontecido. Exemplo da ZER ABC mais quatro anos na gaveta , com a área em questão cada vez mais insuportável - a situação na Rua Garrett, Largo Camões, junto da Igreja de São Roque, só para citar uma parte da cidade, é inenarrável e envergonha-me

  • Ensombrar os percursos pedonais na cidade, como medida de promoção. Em muitos casos a plantação de árvores deverá ser à custa de lugares de estacionamento


Os peões e não utilizadores do carro também têm direito à cidade. Um utilizador de automóvel consome uma quantidade de espaço, provoca poluição, ruído, risco para os outros, de forma desmesurada, o que não pode continuar a acontecer à custa da qualidade de vida de todos os outros, incluindo dos próprios.


https://informacao.lisboa.pt/agenda/municipal/plano-de-mobilidade-urbana-sustentavel-de-lisboa

terça-feira, 18 de março de 2025

Como se pode esperar que acreditemos nesta gente?

Esta contradição absoluta entre discurso "sustentável" e a prática é esmagadora em Portugal, quer se trate de governo central, autarquias ou IP. No caso concreto, trata-se de facilitar a entrada dos automóveis em Lisboa, uma cidade já completamente atolada em trânsito e poluição, com mais uma ponte de 6 vias e um túnel, certamente com outras tantas vias.  Uma aberração total. E no entanto muito mais provável do que qualquer ligação ferroviária nova ou até que o reforço dos comboios na 25 de Abril.

Como é que podemos ter alguma confiança nestes gestores públicos? 









(Fonte Lisboa Para Pessoas: https://lisboaparapessoas.pt/2025/02/28/ponte-chelas-barreiro-tunel-alges-trafaria-travessias-tejo/ em 18MAR2025)






(Fonte Público: https://www.publico.pt/2025/02/25/azul/noticia/associacao-zero-considera-inaceitavel-construam-novas-travessias-tejo-possam-usadas-carros-2123688 em 18MAR2025)




quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

Facilidade de estacionamento e promoção do automóvel

Determinada linha de autocarro (M30, concelho de Cascais) é muito utilizada por clientes do mercado semanal de Tires, ao sábado de manhã. Este mercado, muito frequentado, tem inúmeros lugares de estacionamento, que no entanto são sempre escassos para tanta procura, assisitindo-se à habitual ocupação selvagem de tudo onde se podem parquear automóveis, com a também habitual passividade da PSP presente no local.


Na viagem de ida para o mercado, uma senhora comentava para um conhecido:

- "Eu tenho carro na garagem!" - querendo com isso significar vejam lá não me confundam com uma pobre que não tem alternativa a andar de autocarro!

"Mas aquilo é um confusão para estacionar! Prefiro vir no autocarro, é um descanso!"

No mesmo dia, no regresso, um homem dizia o mesmo:

- "Dantes vinha de carro, mas desisti, era uma dificuldade estacionar. Hoje estou a experimentar vir de autocarro, ainda não sei os horários. Assim é mais tranquilo."

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Nenhum deles referiu mesmo de leve fatores de decisão como o custo de usar o automóvel ou critérios ambientais, ou quaisquer outros. Apenas a dificuldade em estacionar.


Em face disto, é bem fácil de concluir qual será a opção destas pessoas se a câmara construir (ou "investir", como é hábito ouvir) mais estacionamento.

Em face disto, e sabendo que este tipo de raciocínio é generalizado, confirma-se aquilo que se sabe muito bem: a constante construção de estacionamento que se verifica pelo país não reduz o congestionamento, não reduz o tráfego. Pelo contrário, incentiva-o.


(fonte Google Maps)